A perda de um ícone do Movimento Moderno carioca: Hospital Universitário da UFRJ

Certamente, a implosão da metade abandonada do Hospital das Clínicas da Universidade do Brasil, no dia 19 de dezembro de 2010 — edifício que hoje abriga o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, projetado em 1949 por Jorge Machado Moreira —, não terá a repercussão internacional que obteve a demolição do conjunto habitacional Pruitt-Igoe em Saint Louis, de Minoru Yamasaki. Na segunda metade do século vinte foram demolidos inúmeros prédios do Movimento Moderno no mundo. No entanto, não se tem notícia da “preservação” de metade de um edifício moderno. Os fragmentos de edifícios foram valorizados pelo Romantismo no século XIX, na valorização da beleza da ruína, como expressão da lembrança de um passado perdido. No entanto, surgem sérias dúvidas quanto ao valor estético de uma “ruína modernista pela metade”: como será a permanência de uma parte do hospital? Será que se converterá em uma triste imagem, um pesadelo que substitui a concretização de uma utopia. De todo modo, a implosão da metade do Hospital Universitário vai deixar um vazio no skyline da cidade, já que a sua dimensão gigantesca dominava a paisagem do Rio de Janeiro. É, mais uma vez, o resultado de decisões no mínimo contraditórias: no momento em que se gastam milhões na construção de novos hospitais ou se adaptam edifícios como a sede do Jornal do Brasil para o INTO com fundos do governo federal, se implode um hospital que poderia ter cumprido o destino que dele se esperava. O grande paradoxo será que provavelmente os mesmos explosivos empregados na demolição, estiveram presentes — a não mais do que poucas centenas de metros de distância —, nas barcaças nas quais foram montados
os fogos de artifício para o Réveillon de 2011 na praia de Copacabana. As nuvens de cinzas e as suas conseqüências, foram abafadas e esquecidas pelas fugazes ostentações coloridas que inauguraram um ano mais novo e talvez um pouco mais pobre.

Palavras-Chave: Arquitetura Moderna, Cidade Universitária, Jorge Machado Moreira, Arquitetura Hospitalar

Brasília 50 anos: da cidade ideal à cidade real

Brasília representa uma das últimas utopias urbanas da civilização ocidental. Sintetiza a trajetória da imagem ideal de cidade desde Platão e Aristóteles até Le Corbusier. Na sua concepção integra, distingue os sonhos e aspirações
dos pioneiros do Movimento Moderno, e inspirou a única capital do século XX com uma identidade simbólica reconhecida no mundo inteiro. Genialidade e fervor criativo surgidos dos talentos de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer, cuja simbiose urbano-arquitetônica definiu os parâmetros conceituais que
concretizaram o seu arcabouço. As quatro escalas básicas – monumental, residencial, gregária e bucólica –, entrelaçadas pelo sistema viário, permitiram um relativo funcionamento harmônico, assim como a adaptação as mudanças ocorridas neste meio século de existência. Assim, foi incluída no Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Mas a dinâmica “real” imposta pela vida social transformou a Brasília “ideal” com intervenções nem sempre bem resolvidas. O objetivo desde ensaio consiste em identificar as principais mudanças verificadas no Plano Piloto de Lúcio Costa, e avaliar as suas conseqüências no século XXI.

O Largo da Carioca no Rio de Janeiro: complexidades de um espaço urbano

O centro do Rio de Janeiro sempre foi marcado por grandes transformações determinadas nãosó pelas tensões existentes entre o meio natural e o espaço construído, mas também pela suagrande capacidade de renovação. Dentro desse contexto, o Largo da Carioca, inserido nosistema urbano articulado pelo Morro de Santo Antônio – que compreende também a Rua daCarioca, a Rua do Lavradio e a Lapa – teve sua forma modificada intensamente ao longo doséculo XX, sem que sua identidade tenha sido completamente respeitada. Ali se entrelaçamfragmentos edificados de diferentes tempos, estruturas espaciais novas e tradicionais, além deintensas dinâmicas de uso do espaço urbano, que dão origem às complexas relações que ocaracterizam como um dos mais significativos espaços urbanos do centro da cidade.
The center of Rio de Janeiro has always been marked by great changes, determined not only bythe tensions between the natural environment and the built space, but also by its great capacityfor renewal. Within this context, the “Largo da Carioca”, inserted in the urban system articulatedby the “Morro de Santo Antônio” – which also includes the “Rua da Carioca”, “Rua do Lavradio”and the “Lapa” – also had its form greatly changed throughout the XXth century, many timeswithout its identities have been completely respected. There we have built fragments fromdifferent times, new and old spatial structures, besides intense utilization dynamics of the urbanspace, which originates complex relationships that characterize it as one of the most interestingurban spaces of the city center.
Palavras-chave: Rio de Janeiro, História Urbana, Largo da Carioca, Representação Gráfica
Keywords: Rio de Janeiro, Urban History, Largo da Carioca, Graphic Representation

The Center of Rio de Janeiro: Urban Cultural Paradoxes

In the second decade of this century a series of major international events will take placein Rio de Janeiro – the World Football Championship (2014) and the Olympic Games(2016) – and this will undoubtedly affect the city´s urban structure. The renovation of the central area – the urbanization of Porto Maravilha – will be one of the essential objectives of the proposed plans. An open space at the business district – the Esplanada de Santo Antônio – and its fragmented occupation by contradictory cultural functions, establish a challenge for the city center future. Project prepared for the occupation of Santo Antônio Hill defined the particularity of the discussion about Rio de Janeiro urban culture of the of the first half of the XX century. Master plans developed by Donat Alfred Agache (1875-1959), Paulo de Camargo e Almeida (1906-1973), José Octacílio Saboya (1899-1967) and Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) represent the changes occurred from the academic vision of the urban structure to the renovation of the Modern Movement under Le Corbusier influence. They express the antithesis between the desire to integrate the new projects in the traditional, compact tissue of the historic city and valorize the diversification of cultural functions. At the same time appeared a rejection of an elemental organization of tall buildings in the open new space, thesis finally applied on the partial concretization of the Santo Antônio Esplanade. The object of this paper is to show how social and cultural meanings of the urban center calls for an intimate relationship between historic heritage and the new proposals of renovation. And also try to define the dialog between architectural and urban typologies related to the compact tissue, denied by the isolated towers that represent the image of the contemporaneousness. In this indispensable articulation, the discussed urban culture at the Santo Antônio Esplanade will be an essential precedent for future projects for this central area.

Arquitetos franceses no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX

Na Primeira República (1889-1930), constituíram-se as bases da modernidade. As três primeiras décadas do século XX foram de intensas transformações urbanas: a expansão do tecido, a industrialização da construção, o adensamento e o início da verticalização. Muitos profissionais estrangeiros, sobretudo europeus, ilustres ou anônimos, fizeram parte da construção da cidade do Rio de Janeiro, que carecia de mão de obra especializada e de diplomados. A presença de profissionais franceses é relevante. Este trabalho parte do pressuposto da relevância da cultura arquitetônica francesa para a definição das novas expectativas

como parte da cultura universal ocidental europeia. Apresentamos, de maneira geral, o conjunto das obras remanescentes de edifícios que foram construídos por franceses nas três primeiras décadas do século passado. Apresentamos uma obra arquitetônica paradigmática (Hotel Copacabana Palace, 1923), buscando compreendêla a partir da sua formulação teórica e de sua importância para a cidade.
PALAVRASCHAVE: Joseph Gire; Copacabana; teoria da arquitetura; história urbana;

‘Henrique E Mindlin e Associados: a ética da eficiência e a escala da cidade’

O projeto do antigo Banco do Estado da Guanabara (BEG), de 1963 construído em 1965 pela Companhia Construtora Nacional, marca um momento significativo na trajetória do arquiteto Henrique Ephim Mindlin (1911-1971). Realizado em colaboração com Giancarlo Palanti (1906-77), Walter L. Morrison (1926), Walmyr Lima Amaral (1931) e Marc D. Fondoukas, (1913-83) exigiu da equipe uma abordagem inovadora para as demandas programáticas e questões técnicas.

Henrique Mindlin, espécie de embaixador da arquitetura moderna brasileira no exterior, tornou-se mais conhecido pela sua publicação Arquitetura Moderna no Brasil (1956), do que pela própria obra arquitetônica, a qual atribuiu à prática coletiva do escritório. Filho de judeus russos emigrados em fuga dos pogroms, Mindlin recebeu uma refinada educação, voltada para valores humanísticos e artísticos. Comunicava-se em sete idiomas, e teve ampla ação internacional, participando de diversas instituições. Sua associação com o italiano Palanti desde 1956, além do grego Fondoukas e do escocês Morrison traduz o caráter cosmopolita do grupo, e foi responsável por edifícios paradigmáticos do penúltimo quartel do século XX construídos na
cidade do Rio de Janeiro.

Este trabalho analisa o edifício do BEG procurando compreendê-lo à luz do diálogo que Henrique Mindlin e seus associados estabeleceram com o debate internacional arquitetônico. Para avaliação do processo reflexivo do grupo, a obra em questão será comparada com outras de diferentes épocas do escritório, a saber: Edifício Avenida Central (1957) e Edifício-sede do Jornal do Brasil (1966-1973).

Na historiografia corrente, o edifício Avenida Central é frequentemente associado ao Estilo Internacional e à arquitetura de Mies van der Rohe, nos Estados Unidos. O edifício do BEG teve suas qualidades relacionadas ao New Brutalism inglês, e o Ed. Jornal do Brasil aprofunda as questões técnicas. Cada um dos três edifícios apresenta particularidades na relação com a cidade. A resposta às demandas programáticas, assim como as soluções técnicas propostas, sobretudo as estruturais, representam momentos de transformação da arquitetura moderna brasileira.

Palavras-Chave: Banco do Estado da Guanabara; Edifício avenida Central; Edifício-sede Jornal do Brasil;

Marina da Glória, sobre a constituição do lugar e sua transformação em gueto

Inaugurada em 1979, a Marina da Glória tem sofrido constantes alterações que a descaracterizaram. Localizada na cidade do Rio de Janeiro no Parque do Flamengo, tombado pelo DPHAN em 1965, o projeto do arquiteto Amaro Machado respeitou todas as premissas do tombamento, sendo aprovado pelo
IPHAN em 1976. Este trabalho resgata o histórico das diversas versões do projeto de Amaro Machado com a colaboração do paisagista Roberto Burle Marx, a partir de fontes documentais originais e inéditas. Demonstra em que medida, as premissas conceituais do projeto estão em consonância com a proposta que fundamenta o Parque, na criação de um lugar no sentido heideggeriano. São examinadas as sucessivas descaracterizações da obra, através do registro físico delas, e das disputas legais ocorridas pelo ensejo da
exploração comercial. Entre os objetivos, traz-se à luz, o debate sobre a preservação do patrimônio recente em confronto com os imperativos do mercado, e o futuro do Parque do Flamengo.

A HISTORICAL APPROACH TO AVENIDA PRESIDENTE VARGAS PROJECT IN RIO DE JANEIRO: CHALLENGES AND CONTROVERSIES TOWARDS A RESPONSIVE FUTURE

Six decades after President Vargas Avenue drastic urban surgery (1940-1944) for opening this main urban artery in the central area of Rio de Janeiro city, it still seems an unfinished project sprinkled with notable examples of pre modern, modern and ordinary architecture and multiple urban voids. Diversity, emptiness, discontinuity and permanence summarize, nowadays, this monumental project, conceived during the nationalist context of the Dictatorial regime (1937-1945) imposed by President Getúlio Vargas. Recent attempts — projects, new buildings, urban legislation review — to manage this unfinished project have been in vain. This paper aims to discuss the current conjuncture, through the understanding of this historical process. What controversies and challenges do these attempts point out towards a responsive future for President Vargas Avenue?

Re+presentações. Coleções em museus de arquitetura

Quais são os objetos que formam uma coleção de arquitetura? No âmbito
do museu de arquitetura, quais são os objetos e os objetivos de uma coleção de arquitetura? Para que servem e a quem se destinam? Estas questões impõem-se, independentes do tempo histórico, quando se reflete sobre a idéia do museu de arquitetura. Outros tipos de museus, como por exemplo, os de arte do passado, têm suas origens a partir da pré-existência dos objetos colecionados, e têm seus objetivos fundamentados nas práticas específicas da instituição museal: a coleta, a conservação e a exposição.

No caso do museu de arquitetura, o acervo, ou seja, os edifícios encontram-se a céu aberto, nas cidades, comprometendo ainda mais o entendimento do acervo formado por objetos distintos e manipuláveis. O acervo dos “objetos” arquitetônicos é a própria cidade, com suas práticas sociais, históricas e culturais. Do que então se constitui o acervo do museu de arquitetura? De fragmentos verdadeiros dos edifícios, de reproduções dos fragmentos dos edifícios quando estes fragmentos não estão disponíveis, de representações dos edifícios e seus contextos em maquetes de escala reduzidas, de imagens? Na medida em que o acervo deve ser produzido, abrem-se possibilidades para a imaginação, e sobretudo, para o debate do valor dos meios de apresentação, seja para a própria prática da arquitetura, seja para a definição dos critérios de eleição do patrimônio eleito. A idéia do museu de arquitetura ultrapassa o simples valor da instituição museal como “lugar de memória”, inscrevendo-se em um âmbito conceitual decorrente do questionamento das noções de museu, de arquitetura e de cidade.

Este trabalho analisa a idéia e os objetivos do museu de arquitetura, a partir
da formação de suas coleções, comparando diferentes propostas: o MoMA NY, o Museu de Arquitetura de Frankfurt , o MNAM no Centro Georges Pompidou e a Cité de l’architecture et du patrimoine, estes dois últimos em Paris.
Palavras chave: museus; arquitetura; coleções

Pintura e Arquitetura na Arte Moderna norte-americana: os pintores expressionistas abstratos e Frank Lloyd Wright

Desde a Antiguidade clássica, a vinculação entre as diferentes artes não se constituiu um problema do fazer artístico. No século das Luzes, com o advento da Revolução Industrial e os novos procedimentos de formalização da matéria, a crise da arte se instaura desvelando questões que foram recolocadas até às vanguardas artísticas européias, como a síntese das artes. A idéia da síntese ou obra de arte total foi central na poética do Romantismo alemão. A síntese das artes é um tema que se configura na teoria da arte moderna, desde a sua formação iluminista até às vanguardas do início do século passado. O tema da síntese apareceu em diferentes poéticas modernas, com origens e entendimentos diferenciados.

O trabalho apresentado examina o problema da síntese das artes, entendida como dialética da separação das esferas artísticas a partir de suas especificidades, mas não como antitética. A noção de separação das linguagens artísticas analisada foi a formulada pelo crítico norte-americano Clement Greenberg, uma visão diferenciada da teoria européia, em um momento que se constituiu nos extertores da arte moderna em meados do Século XX, também chamado de último modernismo.

O recorte baseia-se na polêmica travada nos Estados Unidos na década de 1950, especificamente na cidade de Nova York, entre pintores norte-americanos, especialmente aqueles vinculados ao Expressionismo Abstrato, junto com os agentes do campo das Fine Arts versus o arquiteto Frank LLoyd Wright, autor do criticado projeto do Museu Solomon R. Guggenheim. O trabalho examina a noção de síntese das artes proposta pelo arquiteto, bem com as formulações greenbergianas sobre a pintura planar moderna, pontuando tanto as divergências entre as concepções arquitetônica e pictórica, quanto as similaridades existentes no âmbito da Arte Moderna norte-americana.
Palavras-chave: Síntese das Artes; Expressionismo Abstrato; Frank LLoyd Wright